"A prestação do patrocínio forense não era a mesma coisa que o fabrico de bolas de Berlim ou a produção de alheiras"
António Marinho Pinto in "Um combate desigual", Verso de Kapa, 2010, p.46

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ninguém reprova nas Faculdades de Direito

Olá Marinho,

Espero que esta carta te encontre bem de saúde e a gozar as merecidas férias de Verão.
Escrevo-te hoje para corrigir um equívoco teu. Recentemente afirmaste categoricamente mais um dos teus "factos" que se veio a revelar ser na verdade um palpite errado.
Não pretendo com esta correcção dizer que o fazes para manipular a opinião pública para que esta pense que toda a gente consegue um curso de Direito devido ao facilitismo das faculdades, antes pretendo emendar aquilo que certamente terá sido um lapsus linguae daqueles a que já nos acostumaste mas que, tanto quanto sei, não ousaste corrigir.
Como não quero, também eu, cair no erro de fazer afirmações que não posso sustentar, optei por me dirigir a uma Faculdade de Direito de prestígio para tirar fotografias às pautas de alguns exames, nomeadamente de Direito Internacional Privado I e de Direito Fiscal.
Para não dizeres que "ah essas notas não são definitivas porque os alunos têm sempre a época de recurso", decidi fotografar exactamente as notas da época de recurso, sendo que, caso não saibas, as notas inferiores a 7 representam um chumbo e uma necessidade de repetir a cadeira. Ora, tratando-se de cadeiras de final de curso isso implicará que os alunos tenham de ficar mais um ano na Faculdade a fazer as referidas cadeiras (o que, segundo o teu critério quantitativo de anos para medir a qualidade dos cursos, significará que ficarão com um curso de 5 anos, ou seja, de metade da duração do teu).

Portanto, disseste recentemente numa entrevista o seguinte:

"O ensino do Direito em Portugal é assim tão mau?
_ Havia boas escolas de Direito, mas mesmo essas têm embarcado no facilitismo. Ninguém reprova nas faculdades de Direito porque aquelas que chumbarem os seus alunos perdem-nos e perdem dinheiro. Hoje, os diplomas não valem nada (...)"

A verdade é que já antes o tinhas sugerido na televisão aquando do anúncio do aumento das vagas para Direito para o próximo ano. Como ninguém contestou, decidiste insistir e repeti-lo nesta entrevista. Mas a verdade é que se repetires muitas vezes a mesma mentira ela não vai deixar de ser uma grande treta.
Dir-me-ás de seguida: mas o facto de haver tantos chumbos só significa que os alunos não estão preparados. Ao que eu te responderei: então decide-te, ou as faculdades facilitam os alunos ou eles não estão preparados e não passam, não pode ser as duas coisas ao mesmo tempo.

Posto isto, apresento as referidas provas, sendo que não apresentarei nem os nomes dos alunos nem direi em que Faculdade as fui buscar. Se tiveres outras provas a apresentar, estás à vontade.

Abraço,

O Legislador Ordinário








P.S. - Caso não percebas os números diz que eu envio-te as fotografias.

5 comentários:

  1. Caríssimo legislador ordinário,

    Engana-se redondamente.

    O "nosso" bastonário não se encontra a gozar férias..

    Antes pelo contrário..

    Atento a carta aberta divulgada a 16/07/2010, onde considerava que:

    "Devemos, pois, estar preparados para as acções de propaganda eleitoral que serão levadas a cabo por poderosas máquinas de «persuasão» mediática, sobretudo daqueles candidatos que mais dificuldades têm em apresentar ideias ou projectos coerentes para a Ordem, para a Advocacia e para a justiça.
    (...)
    Alguns deles vão apresentar-se como arautos da unidade no interior da Ordem, mas, se os Colegas repararem bem, irão ver que são os mesmos que não aceitaram os resultados das últimas eleições e moveram uma guerra sem quartel ao Bastonário e ao Conselho Geral democraticamente eleitos na maior votação de sempre na história da OA. Na campanha eleitoral que está em marcha, alguns «lobos» já começaram a vestir a pele de «cordeiros».",

    o Bastonário da Ordem dos Advogados anda a promover o seu mais recente "livro" (apanhado de textos sem sentido e completamente ausente de fio condutor) por este cantinho à beira mar plantado.. (Na semana passada esteve em Coimbra, e esta semana estará em outros sítios)..

    De facto, parece um pouco contraditório que quem acusa outros candidatos de fazerem uso de "poderosas máquinas de propaganda" (qual regime ditatorial), tenho publicado um "livro" às portas das eleições para a Ordem dos Advogados.. Mais contraditório parece ainda ser esta sede incessante de divulgação e de necessidade de atenção constante dos media, (já foi à Fátima Lopes e às Tardes da Júlia)..

    Enfim.. Nada que não fosse de esperar, vindo de quem vem.

    Quanto ao assunto do post.. Evidencias para todos aqueles que frequentam ou frequentaram uma Faculdade de Direito.. Mas um mistério e um enigma para um BOA que obteve licenciatura mediante passagem administrativa.

    Um Abraço.

    António Lopes,

    Colega de Facebook.

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  2. De facto esta pauta demonstra a realidade dos factos, e para que não restem mais dúvidas sobre a idoneidade do ensino seja público ou privado (embora ache a distinção absurda) se for preciso também arranjo fotos das pautas da minha faculdade, uma das privadas fortemente atacadas, e que ele um dia disse num jantar-conferencia em resposta a uma questão colocada por mim que a distinção era absurda e que se não tivesse boa impressão daquela faculdade jamais lá teria ido orar.

    Quanto ao facto de ele estar de férias, ou não, considero isso irrelevante. Tal como nós, ele também é humano e merece uns dias de descanso.

    É incrível como temos um ex-professor de comunicação social que pelos vistos é licenciado em direito (numa das décadas que mais dúvidas levantou sobre a qualidade do ensino superior em Portugal) a querer dizer se eu (leia-se licenciados em direito) tenho competência para ser advogado, ou não, através de um pedaço de papel com meia dúzia de perguntas feitas sabe-se lá por quem, com que imparcialidade, ou com que formação académica. Já para não falar da correcção, e dos seus critérios, que me parece que são muito duvidosos.

    Perdoem-me o desabafo, mas é o que eu penso.

    João Vinha Barreto

    "Bacharel travestido de licenciado" e membro do grupo do Facebook

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  3. Caro António Lopes,

    Confesso que quando fiz o comentário das férias não tinha qualquer conhecimento se era verdade ou não. Foi só para iniciar a carta.
    Quanto ao livro dele, eu próprio ando a lê-lo quando tenho tempo e não é nada a que não nos tenha já habituado. Propaganda barata, elogios a si próprio, gabarolice do que fez, promessas acerca do que vai fazer, ameaças com o que acontecerá se não for ele a salvar a Ordem, etc.
    Contudo, tem lá textos de algum interesse, embora me sinta sempre na necessidade de comprovar os factos que ele apresenta - pelos motivos expressos nesta carta.

    Caro João Vinha Barreto,

    Estás à vontade para me enviares quaisquer documentos que entendas poderem ser-me úteis para as cartas.
    Aparece sempre para deixares os teus desabafos. Aqui serão sempre bem recebidos.

    Cumprimentos aos dois,

    L.O.

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  4. Eu percebi o recurso as férias.. E o meu post não foi para te criticar mas sim para dizer que Bastonário anda em grande azáfama a auto promover-se, no sentido de angariar mais uns votos..

    A jogada do costume..

    Já a jogada de instituir um vencimento para o exercício do cargo BOA foi extremamente astuta.

    De facto, estabelecendo um vencimento para si próprio, abre as portas para que futuros Bastonários continuem a auferir desse rendimento.

    Não me parece (mas espero estar enganado) que qualquer BOA que aí venha vá acabar com esta regalia.. Sempre são 6000 euros mensais, mais o subsídio de "reintegração" no mercado de trabalho findo o mandato.. Ora, como se depreende, a instituição desta medida - embora não parecendo - é extremamente populista.

    Não custa imaginar o seguinte raciocínio de um qualquer advogado:

    Sendo o Bastonário que teve a "coragem" de instituir um vencimento mensal, há que lhe dar o devído crédito (neste caso o devido voto).. pois quem sabe daqui a uns anos não serei "eu" a auferir esta bela quantia caso me candidate a vença.. Tudo é possível.. Se até o Marinho conseguiu enganar toda a gente e ganhou talvez eu também consiga.. Deixa cá dar-lhe o meu votinho para ele fazer o seu pé-de-meia que daqui a uns aninhos posso ser eu o galo no poleiro.


    E é a isto que estamos entregues.

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  5. Não é que esta questão tenha muito relevo. O facto de existirem chumbos não é critério suficiente para se aferir da qualidade de uma instituição. O senhor BOA deve saber disso.
    Felizmente ou infelizmente, ainda se chumba nas faculdades Portuguesas. Na FDUC a taxa é elevada. O curso é relativamente dificil e a grande maioria dos estudantes não são muito estudiosos. Saem de lá muitos licenciados porque a maioria reprova mais de um ano (água mole em pedra dura,tanto bate até que fura). A verdade é que saem preparados!

    Lá e na maioria das faculdades portuguesas de direito não se "vendam cursos".

    É verdade que existem faculdades que "vendem cursos", o Sr. BOA em vez de generalizar, podia referir quais são essas faculdades.
    Todos nós sabemos quais são...

    Os cursos, mesmo "vendidos", são cursos. A ordem nada tem a ver com isso. Pode criar exames, isto e aquilo, pode insultar, etc, mas não pode fazer mais nada.
    A questão da "venda de cursos" é da competência do Estado.

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