"A prestação do patrocínio forense não era a mesma coisa que o fabrico de bolas de Berlim ou a produção de alheiras"
António Marinho Pinto in "Um combate desigual", Verso de Kapa, 2010, p.46

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Vitória na Secretaria

Olá Marinho,

Desculpa não te ter dado a atenção que mereces e que tanto aprecias mas tenho andado muito atarefado.

Os meus parabéns pela recente "vitória" no Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa.
Já li o teu comunicado no site da OA e o teu artigo de opinião no JN e confesso que fiquei convencido que o Tribunal tinha feito um juízo de mérito sobre o caso - à semelhança do que foi feito no primeiro processo em que perdeste - e tinha decidido que o mesmo era desprovido de sustentação jurídica. Talvez isso tenha ocorrido, em parte, pela citação da sentença que puseste no teu artigo e que diz o seguinte: "(...) das posições assumidas pelas partes na presente acção não resulta evidente a procedência da pretensão formulada ou a formular no processo principal".
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Chocado, como tantos outros, por esta decisão diametralmente oposta à proferida pelo mesmo Tribunal há uns meses, senti a necessidade de ler a sentença, não fosses tu, certamente por engano, ter cometido o erro de teres citado apenas a parte que te interessa e teres omitido a questão de fundo que levou à improcedência da acção.
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Após a leitura da sentença, cheguei à conclusão que tinhas omitido precisamente a parte principal da informação. E é por isso que vou pôr aqui à disposição de toda a gente a sentença na sua totalidade, para que possam verificar que na verdade não ocorreu o que pretendes que se pense que ocorreu.
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O Tribunal nem chegou a apreciar a questão de mérito porque entendeu (grosso modo) que, não havendo exame marcado, não havia urgência, logo a forma processual não era a ajustada.
Naturalmente que o Tribunal não levou em conta o facto de os Autores terem a legítima expectativa de que haveria um exame em Outubro, bem como novos cursos de estágio. Legítima porquê? Perguntarás tu com aquele teu olhar amoroso. Ao que responderei: legítima porque foste tu que a passaste ao dizeres ao jornal i (ver também aqui) que "em princípio em Outubro começará o curso de estágio e será feito novo exame de admissão".
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Mas ao veres as acções a entrar em Tribunal optaste por não marcar o exame nem abrir o curso para que aquelas começassem a cair e pudesses ter apenas 1 derrota e 6 ou 7 vitórias. Esquecendo, é certo, que nenhuma dessas vitórias incidiria sobre a verdadeira questão da (i)legalidade e (in)constitucionalidade do Exame. Mas se queres ser honesto como tanto apregoas nos meios de comunicação social (e em especial naquela comovente entrevista à Fátima Lopes que tive ocasião de ver com uma lágrima furtiva a rolar-me pela face), então não omitas que ganhaste por questões processuais e porque enganaste os licenciados ao prometeres que farias um exame para depois não o marcares.
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Sem dúvida que o monte de vitórias que aí vêm serão óptimas para a tua campanha e para continuares a receber esse parco ordenado que te auto-atribuíste - e que defendes com um "não sei de nada, eu já tinha dito na campanha", como se tivesse sido por isso que te elegeram - durante mais uns aninhos.
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Mas se queres ganhar, mostra alguma dignidade e não tentes enganar as pessoas com frases como: "No entanto esta decisão judicial é de saudar pelo seu acerto jurídico e pela ponderação que revela em relação aos vários interesses atendíveis. Desde logo porque o exame de acesso ao estágio é uma medida que cabe dentro dos poderes de regulação da OA e é essencial para a defesa da função social da advocacia. Com efeito os cursos de Direito não têm hoje a mesma qualidade que tinham antes do chamado Processo de Bolonha, que reduziu a sua duração de cinco para quatro ou mesmo para três anos." Esta frase é claramente enganosa e visa levar os leitores a concluir que foi essa a decisão do Tribunal, quando, na verdade, a única decisão que apreciou esta questão a fundo decidiu que isso era falso.
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Se queres verdadeiras vitórias, mostra alguma coragem e marca o próximo exame de acesso. Deixa que as acções sejam julgadas pelas questões de mérito e não tentes ganhar com enganos, mentiras e omissões que levem a que o Tribunal não possa apreciar as verdadeiras questões.
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Ou não o vais fazer porque sabes que vais perder e isso é mau para as eleições?
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A sentença está integralmente disponível aqui ou aqui ou aqui para quem a quiser.
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Peço ainda aos leitores que assinem a Petição Online para Abertura do Estágio de Advocacia.
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Cumprimentos,
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L.O.

9 comentários:

  1. Felizmente houve alguém que tratou de trazer a verdade para conhecimento de todos, já que jornais que se dizem de prestígio como o Expresso ou o Jornal de Notícias deram informação claramente enganosa.É triste.
    Parabéns por mais uma excelente carta ao Sr. Marinho.

    J.L

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  2. Com a verdade me enganas, Argileu Palmeiras! Também li a decisão, que não é de mérito, é certo, mas que diz precisamente o que Marinho transmitiu e que é significante, fundamental, devendo ser divulgada. E a vitória não foi na secretaria, que é isso que te irrita. Na secretaria vencem os que escrevem do que não sabem ou os que chegam sem mérito e por exclusão de partes (partos?)difíceis, à profissão. Qual? De Advogado! Aconselho, portanto, Marinho, se ganhar as próximas eleições, a usar os niveladores dos Argileus Palmeiras. Basta seguir o rasto dos juízes.

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  3. Julgo que bem julgo,
    posto que bem mal julgado está!
    Vi que não vi, morra que não morra!
    Dêem o nó na corda que não corra.

    JUIZ DE FAJÃO

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  4. Ao que, de forma erudita (segundo ele pensa), me chamou de Argileu Palmeira(s):

    Caro Squealer,

    Não é meu costume responder a provocações, mas abrirei uma excepção.

    Receio que a admiração que nutres pelo Grande Pai te tenha toldado o raciocínio ao ponto de te fazer ler nas palavras dele o que efectivamente não está lá.

    Mas como é o diálogo que me interessa e não o acéfalo ataque estilisticamente bem elaborado mas desprovido de conteúdo argumentativo, aproveito para te apresentar algumas perguntas, na expectativa que tenhas a bondade de lhes responder.

    Dizes que a sentença transmitiu precisamente o que Marinho transmitiu.
    Então pergunto-te:

    1 - Onde é que o Marinho fez qualquer referência à sua vitória por uma questão processual?

    2 - Porque é que o Marinho colocou esta sentença exactamente ao mesmo nível da outra nos seus artigos?

    3 - Porque é que só citou uma parte de um parágrafo da sentença, dando a entender com essa citação selectiva que o tribunal apreciou a questão de mérito?

    E aproveito para perguntar ainda:

    4 - Porque é que o Marinho não fez mais um exame, como disse que (em princípio, é certo) iria fazer em Outubro?

    5 - Quais são os fundamentos que apresentas para considerar a minha licenciatura em Direito (de 4 anos) diferente das licenciaturas de 5 anos?

    6 - Essa nivelação que propões, baseia-se na inferior qualidade dos licenciados de Bolonha em relação aos anteriores licenciados? Quer isso dizer que todos os licenciados pós-Bolonha são inferiores a todos os pré-Bolonha?

    7 - Que moral tem um indivíduo que demorou uma década a tirar um curso com média de 11 para me dizer que era melhor jurista quando acabou o curso do que eu?

    8 - Por fim, concordas com a atitude de um líder da Ordem dos Advogados que viola deliberadamente a lei e se justifica com um "Se viola os Estatutos, paciência"?

    Aguardo as tuas respostas.

    Cumprimentos,

    L.O.

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  5. Caro J.L.,

    Os meus agradecimentos pelas suas palavras.

    Caro Juiz de Fajão,

    "Chés-bés, Marinho põe palha"

    Cumprimentos,

    L.O.

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  6. Ola... Gostaria de saber o que é preciso para fazer uma parceria de links com o seu site?!
    Aguardo um retorno e agradecido pela sua atenção!
    Meu site: www.passadobrasileiro.com.br
    meu e-mail: passadobrasileiro@passadobrasileiro.com.br

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  7. Caro diconvergenciablog,

    Era suposto haver um em Outubro mas duvido que venha a ocorrer. Caso venha a ser feito um exame ainda este ano (o que eu duvido), certamente será depois das eleições.

    É que estão muitas acções em tribunal e o Marinho, covardemente, quer deixá-las cair a todas para não arriscar perder.

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  8. O anónimo além de não ter nome faltou-lhe agora a voz...

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